terça-feira, 14 de março de 2017

Título: Marcado na Pele
Título Original: Marked in Flesh
Série/ Saga: Os outros #4 (The Others #4)
Edição: Saída de Emergência
ISBN: 9789897730245
Nº de páginas: 432 páginas


"Durante séculos, os Outros e os humanos viveram lado a lado numa paz precária. Mas quando a Humanidade ultrapassa os seus limites, os Outros terão de decidir o que estão dispostos a tolerar.
Desde que os Outros se aliaram às Cassandra Sangue, os frágeis mas poderosos profetas humanos que estavam a ser explorados pela sua própria espécie, tudo se transformou na relação entre humanos e os Outros. Alguns como Simon Wolfgard, metamorfo e líder, e a profetisa Meg Corbyn, encaram a nova parceria como vantajosa. Mas nem todos estão convencidos. Um grupo de humanos radicais procura usurpar terras através de uma série de ataques violentos contra os Outros. Mal sabem eles que existem forças mais perigosas e antigas que vampiros e metamorfos e que estão dispostas a fazer o que for necessário para proteger o que lhes pertence…"


Antes de mais devo dizer-vos que, à semelhança do que acontece com todas as outras séries desta autora que já li, adoro esta saga. É ligeiramente diferente daquilo a que estamos habituados nela mas não perdeu aquele humor característico e as linhas mais negras que definem a sua escrita e os mundos que constrói, continuando a consegui produzir no leitor alguns calafrios. Ainda assim, este volume é fraquinho quando comparado com os anteriores. Sempre achei que nesta saga Anne Bishop nos alerta muito para os perigos do aquecimento global, para o que pode acontecer se nos esquecermos de tomar conta daquela que é o nosso lar num sentido mais lato do termo. As preocupações continuam a estar lá bem como os alertas para os perigos da falta de aceitação das diferenças do outro, da descriminação em função de raça ou comportamento mas... faltou algo.

O mundo de Os Outros é um mundo com que nos conseguimos identificar automaticamente pois, na sua raiz, é o nosso mundo, aquele em que o leitor vive. As personagens são muito diversificadas mas também muito reais pois que pejadas de problemas, dúvidas, sonhos e convicções pelos quais devem lutar na medida das suas forças. Estas mesmas personagens vão evoluindo a olhos vistos desde o primeiro volume e sempre na medida em que os acontecimentos têm impacto nelas e nas alterações de comportamento que vão manifestando em relação àqueles que as rodeiam. Claro que a evolução tem que ser mais lenta ou estancar temporariamente nalgum ponto da narrativa, é impossível conseguir um ritmo de evolução constante, e foi isso que aconteceu neste livro. A evolução dos personagens parou, não surpreenderam, não reagiram de modo inesperado, mantiveram um comportamento constante e que fez com que a narrativa perdesse. Em certos momentos chegou a parecer-me que não sabiam como se comportar na sua própria história, pareciam perdidos. Além disso, neste volume aparecem novos personagens que se juntam ao já numeroso elenco e foi aqui que mais me pareceu que a autora perdeu o rumo do que estava a fazer.  Não houve um controlo efectivo dos personagens pré-existentes e a adição de novos elementos apenas serviu para aumentar a confusão o que fez com que o livro perdesse imenso. Há muita coisa a acontecer em vários cenários diferentes e com inúmeros personagens e quer-me parecer que a autora não conseguiu gerir com sucesso todo o volume de informação e acção que nos queria passar.

A dificuldade na leitura é gerada unicamente pelos personagens e pela falta de acção efectiva nos primeiros 3/4 do livro. As coisas vão acontecendo mas não há impacto, a inercia marca a acção dos intervenientes que vão sempre adiando uma reacção por várias ordens de razões. Vemos as coisas acontecer a um ritmo lento à medida que passamos as páginas mas ninguém se apercebe realmente do que está a acontecer, os personagens estão tão adormecidos que não juntam 2+2 e não há quem reaja como esperaríamos (parecia que a autora andava a encher chouriços sem saber muito bem que caminho seguir para atingir o resultado que queria). Quando finalmente há uma resposta às acções e provocações dos vilões ela é de facto arrasadora e a acção aumenta de forma muito considerável. Os acontecimentos finais são  uma visão verdadeiramente apocalíptica e é aqui que vemos, pela primeira vez neste volume, a Anne Bishop de sempre. Implacável, mortífera e destrutiva mas sempre justa, conseguindo deixar o leitor com mais perguntas que respostas como é seu apanágio.

O aumento da acção do outro lado do Oceano foi um dos pontos mais positivos bem como a definitiva adopção de uma "alcateia humana" por parte da comunidade de habitantes do Pátio de Lakeside. A primeira deixa antever viagens e novas interacções, a segunda faz-nos pensar no impacto que tal comunidade pode vir a ter no desenrolar do fim do mundo. Quanto à relação entre Meg e Simon... lamento mas não estou mesmo assim tão interessada em saber se vão finalmente formar um par amoroso. Não é esse o elemento que me faz adorar esta saga que prima sobretudo pela mensagem subjacente que nos é deixada.

Não me interpretem mal, gostei bastante deste penúltimo volume e estou mortinha pela edição do próximo mas, comparativamente, é de longe o mais fraco até à data.

5.5/10


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