domingo, 8 de dezembro de 2013

O Silo

Título: O Silo
Saga ou série: Wool (Woll, #1-5)
Autor: Hugh Howey
Edição: Ed. Presença
ISBN: 9789722351409
Nº de páginas: 528

"Num mundo pós-apocalíptico, encontramos uma comunidade que tenta sobreviver num gigantesco silo subterrâneo com centenas de níveis, onde milhares de pessoas vivem numa sociedade completamente estratificada e rígida, e onde falar do mundo exterior constitui crime. As únicas imagens do que existe lá fora são captadas de forma difusa por câmaras de vigilância que deixam passar um pouco de luz natural para o interior do silo. Contudo há sempre aqueles que se questionam... Esses são enviados para o exterior com a missão de limpar as câmaras. O único problema é que os engenheiros ainda não encontraram maneira de garantir que essas pessoas regressem vivas. Ou, pelo menos, assim se julga..."

Esta história tem lugar num mundo pós-apocalíptico, numa terra completamente árida e devastada  na qual subsiste, vivendo num enorme silo subterrâneo, uma comunidade de centenas de pessoas. Não sabemos muito bem o que é que aconteceu nem como é que as coisas aconteceram. Aquilo de que rapidamente nos apercebemos é que a comunidade está ali há várias gerações e vai diminuindo cada vez mais. Por outro lado, é fácil adivinhar que, seja qual seja a catástrofe que se abateu sobre o mundo, ela foi (como é que podia não ser?) originada pelo Homem. Toda a vida no silo é altamente controlada. O próprio silo está dividido em mais de 140 andares e, como não podia deixar de ser, os que vivem mais perto do topo julgam-se superiores aos operadores de máquinas dos pisos inferiores. O que poucos sabem é que, no meio desta sociedade há quem não seja exactamente aquilo que parece e tenha como função controlar tudo e todos. Há inúmeras coisas que não podem ser feitas, mais ainda que não podem ser ditas e uma única que nem deve ser sequer pensada - o exterior e  a vida ali. 

Na verdade, o exterior é simultaneamente um desejo (talvez por ser proibido) e uma verdadeira fonte de medo - medo do desconhecido, medo de represálias e castigos, medo da limpeza... A única conexão com o exterior resume-se a alguns ecrãs, espalhados sobretudo pelos níveis superiores do silo, que transmitem continuamente e em tempo real, a imagem captada por algumas câmaras de filmar colocadas lá fora. Mas as lentes sujam-se e quem é condenado por algum crime de maior gravidade tem como pena fazer a limpeza das mesmas. O problema é que, além de o simples facto de falar do exterior ou pôr em causa o sistema e a vida naquela comunidade ser considerado crime capital, condenação à limpeza é sinónimo de condenação à morte. Ninguém sobrevive a uma limpeza das lentes.

A estrutura desta magnifica narrativa, que rapidamente se juntou a Passagem como uma das melhores distopias de sempre na minha lista pessoal, está dividida em 5 POV's ao longo dos quais vamos conhecendo melhor todos os personagens envolvidos na trama e nos vai sendo revelado o mistério central. Gostei deste divisão. Permite-nos compreender a profundidade de cada personagem, as suas escolhas e motivações, permitindo-no colher subtilmente a informação. Isto é, o leitor não é bombardeado com os dados todos de uma vez ou de maneira descabida; as informações vão sendo dadas na medida certa, permitindo ao leitor interiorizar todas as implicações e pensar sobre a realidade que lê. Todos os personagens estão muito bem caracterizados e são pluridimensionais, vão crescendo com a história, e a heroina - Juliette - não é diferente. Na verdade, ela só aparece já no final do primeiro terço do livro mas o leitor facilmente se identifica com ela e rápido nos afeiçoamos a uma jovem determinada, forte, prática e que diz aquilo que pensa. Claro que sendo uma verdadeira kick ass, esta mistura não pode dar muito bom resultado...

Escrito de um modo muito simples e directo, este livro tem a grande vantagem de não ser uma distopia YA. Não há triângulos amorosos irritantes nem coisas que se resolvem como que por magia. Não. Aqui todas as coisas têm a sua razão de ser, todas as causas nos são explicadas de uma maneira ou de outra e com o desenrolar da narrativa o leitor começa a pensar... Começamos a pensar e a verdade é que nos apercebemos que aquele futuro, ou um semelhante, são algo muito possível de vir a acontecer num futuro mais ou menos distante. O Homem destrói-se e ao que o rodeia a todo o momento. Por outro lado, a sociedade manipulada, estrangulada e ludibriada que o autor nos descreve não é muito diferente daquelas em que vivemos. Há sempre algo maior mas escondido, os serviços secretos a não querer divulgar informação, corrupção e um sem número de outros pecados sociais aos quais fechamos os olhos diariamente enquanto os aceitamos passivamente. Não podemos deixar de concluir que aquele é um futuro possível, em circunstâncias semelhantes talvez agíssemos da mesma maneira e, acima de tudo, este Silo serve também de metáfora, de retrato às sociedades em que vivemos. Mas até que a conclusão esteja completa temos momentos de uma leitura muito prazerosa e que nos leva a pensar em temas bastante sérios sem que quase nos demos conta.

Recomendado
8/10

Sem comentários: