sábado, 27 de julho de 2013

Sombras da Noite Branca

Título: Sombras da Noite Branca
Série/Saga: A Saga das Pedras Mágicas, #8
Autor: Sandra Carvalho
Edição: Presença
Nº de páginas: 560
ISBN: 9789722350549

"O momento de todas as decisões aproxima-se. Halvard, o Filho do Dragão, espera ansiosamente a chegada da Noite Branca para assimilar o Conhecimento Absoluto e tornar-se um deus na Terra. Quase todos os seus inimigos foram destruídos; apenas o rei Ivarr do povo viquingue, os Guardiães das Lágrimas do Sol e da Lua e os Sacerdotes dos Penhascos ainda resistem. Entretanto, a guerreira Kelda da Montanha Sagrada treinou com afinco sob a orientação do feiticeiro Sigarr e está pronta para se tornar mestra da Arte Obscura. Apesar de saber que a celebração desse ritual irá extinguir a luz da sua essência, ela persiste, pois acredita que só assim poderá deter o avanço sanguinário do irmão gémeo. Todavia, a revelação de que o seu destino é concretizar a profecia e não contrariá-la poderá abalar as suas convicções. Terá Kelda a determinação e a força necessárias para cumprir a missão que a Pedra do Tempo lhe atribuiu, enquanto chora a perda do amor do príncipe da Gente Bela? Ou, sobre o Altar do Mundo, cederá ela à tentação do poder e abrirá o seu coração às sombras da Noite Branca? Sombras da Noite Branca é o oitavo volume da série de culto Saga das Pedras Mágicas, que encerra mais um capítulo desta aventura fantástica e apaixonante."

Há cerca de uns 8 anos atrás vi o primeiro volume desta saga numa livraria e, dando o benefício a uma autora portuguesa, decidi lê-lo quase de imediato. Devo confessar que esse primeiro volume não foi de todo do meu agrado. Fazia-me lembrar os primeiros livros de Sevenwaters da Juliet Marillier a cada página, a narrativa era claramente inspirada nessa saga e isso notava-se muito. Ainda assim, decidi dar mais uma oportunidade a Sandra Carvalho, afinal de contas não é todos os dias que uma autora portuguesa consegue editar uma saga deste género - há muitas a tentar afirmar-se e temos que lhes dar o nosso apoio (é assim que eu vejo as coisas). Não me arrependi desta segunda oportunidade. Se numa fase inicial as referências que inspiraram a autora eram bastante notórias, com o avançar da saga essas evidências foram-se esfumando e a jovem encontrou o seu próprio lugar, deu uma hipótese à sua verdadeira escrita à medida que foi deixando a história e os personagens crescerem e ganharem vida própria. Ao longo de 8 anos esta peculiar família afirmou-se e ganhou o seu próprio lugar no coração dos leitores. Agora, a saga chega ao fim.

A personagem principal é, uma vez mais, Kelda. Apesar de jovem e cheia de dúvidas por estar sozinha, praticamente isolada, no lado errado da guerra que assola não só a sua família mas todos os povos livres da terra, Kelda acaba por se revelar uma personagem forte e merecedora deste destaque. Claro que continua com uma mania que me dá volta aos nervos - "Com mil ratazanas..." - não percebo a escolha da autora relativamente ao praguejar da jovem mas... são opções. Kelda ganha uma nova força, um novo alento que nos é revelado pelas suas escolhas quanto à luta com o seu gémeo e pelas suas acções lado a lado com Erebus e Sigarr. Na verdade, os personagens que mais gostei foram estes dois agentes das trevas. Já adorava o Erebus e ainda não sabia bem o que dali vinha mas agora... sem dúvida o meu favorito. Sigarr, por seu lado, mostra-nos a dualidade existente na alma humana eternamente dividida entre a luz e as sombras, sempre capaz de bem e de mal.

Esta dualidade está presente em todo o livro, lado a lado com a importância do sangue (sangue no sentido literal e também no que respeita à família)  e ambas as ideias têm um papel central na trama. Afinal estamos numa guerra familiar (sangue) entre o bem e o mal na qual se exige um sacrifício (de sangue) para aceder a um poder sem par. As trevas são fortes e acabam por se manifestar não apenas nas alturas menos oportunas para os heróis, como corrompem muitos daqueles de quem nem um único pensamento negro se esperava. A luta trava-se em todas as frentes e a desconfiança dissemina-se minando a moral, as vontades e quebrando até as alianças mais fortes. Ainda assim, com Sandra Carvalho há sempre espaço para surpresas e não são poucas as que nos vão maravilhar, contribuindo para o encaixar  de todas  as peças, levando-nos a  desilusões, reencontros, revelações bombásticas, magias antigas e a amores de derreter o coração mais empedernido.

A trama vai-se adensando e há vários volte-face que nos levam a curiosidade aos píncaros. A linguagem é simples e a narrativa muito fluída sem grandes momentos mortos mas o melhor são mesmo as descrições muito coloridas e que revelam uma extrema atenção aos pormenores. Fui capaz de ver e de, muitas vezes, me sentir literalmente nos vários cenários que visitamos neste volume, acompanhada tanto pelos novos como pelos personagens de sempre. O final, porque é disso que se trata este volume, acaba por ser algo previsível relativamente a alguns personagens mas satisfaz a grande maioria dos leitores porque, ainda que com algumas surpresas pelo caminho, vai de encontro às expectativas.  É um final seguro para a autora mas que me agradou bastante - acabou por compensar aqueles que mais mereciam e por castigar os vilões. 

Foi uma leitura bem mais agradável e compensadora do que estava à espera e que me agradou muito. Calculo que qualquer fã da saga vos dirá, como eu, que até custa um bocadinho despedirmo-nos destes personagens e dos cenários por eles povoados. A minha única chamada de atenção vai para o facto de não haver uma árvore genealógica e pela ausência de um pequeno texto, à laia de resumo, que nos pudesse dar um apoio no relembrar do que ficou para trás. Calculo que não haja muita gente que tenha ido reler os 7 livros anteriores antes de se lançar a este (eu tinha tanta curiosidade que isso estava fora de questão!)

7,5/10

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