domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cinder

Título: Cinder
Série/Saga: Lunar Chonicles, #1
Autor: Marissa Meyer
Tradução: Victor Antunes
Edição:  Editorial Planeta
Nº de páginas: 318
ISBN: 9789896573270

"Com dezasseis anos, Cinder é considerada pela sociedade como um erro tecnológico. Para a madrasta, é um fardo. No entanto, ser cyborg também tem algumas vantagens: as suas ligações cerebrais conferem-lhe uma prodigiosa capacidade para reparar aparelhos (autómatos, planadores, as suas partes defeituosas) e fazem dela a melhor especialista em mecânica de Nova Pequim. É esta reputação que leva o príncipe Kai a abordá-la na oficina onde trabalha, para que lhe repare um andróide antes do baile anual. 
Em tom de gracejo, o príncipe diz tratar-se de «um caso de segurança nacional», mas Cinder desconfia que o assunto é mais sério do que dá a entender. 
Ansiosa por impressionar o príncipe, as intenções de Cinder são transtornadas quando a irmã mais nova, e sua única amiga humana, é contagiada pela peste fatal que há uma década devasta a Terra. A madrasta de Cinder atribui-lhe a culpa da doença da filha e oferece o corpo da enteada como cobaia para as investigações clínicas relacionadas com a praga, uma «honra» à qual ninguém até então sobreviveu. Mas os cientistas não tardam a descobrir que a nova cobaia apresenta características que a tornam única. Uma particularidade pela qual há quem esteja disposto a matar."

Quando parti para a leitura de Cinder já sabia de antemão tratar-se de uma distopia que pretendia recontar a fábula de Cinderela. Também tinha a perfeita consciência de que se trata de um livro virado para um público mais YA, de modo que não exigi muito da autora. Nesse aspecto até fui surpreendida. Esperava uma coisa algo mais infantil do que aquilo que realmente encontrei e só me posso dizer contente com isso. Ainda assim, nem tudo são rosas e o livro também tem as suas falhas e estas podem significar muito para alguém com expectativas mais elevadas.

Depois da Quarta Guerra Mundial o mundo sofreu enormes modificações e, ainda assim, muitas coisas continuam a ser como hoje as conhecemos. Na capital da Comunidade dos países orientais, Nova Pequim, há cidadãos de primeira e aqueles que tentam sobreviver como podem, há aqueles que trabalham arduamente para ganhar o seu sustento e os que têm uma vida de fausto e riqueza, existem os humanos e, muito abaixo deles, os cyborgs. Parece-me a mim que o ponto alto do livro é mesmo a descrição da cidade que, embora nem sempre evidencie de modo directo estas distinções sociais, nos dá um retrato muito realista desta Nova Pequim assolada pela peste e em que os humanos usam os cyborgs e andróides a seu bel-prazer como se nenhuns deles fossem dignos de respeito ou dotados de sentimentos. Até os mais pobres entre os pobres olham para estes seres como se nada fossem senão lixo. 

Acontece que um desses cyborgs é especial. Cinder(ela) é a melhor mecânica da cidade. Ironicamente, ela é também uma jovem cyborg cujo corpo é 36% constituído por partes electrónicas e mecânicas. Trabalha arduamente para sustentar a madrasta e as duas irmãs mas está longe de ser a angélica "santinha de altar", boazinha e resignada a que nos habituamos. Tem sonhos de fuga, manda umas bocas e desobedece sempre que pode. Mas, como boa adolescente que é (e aqui foi onde a coisa começou a falhar um bocadinho, a meu ver), apaixona-se quase automaticamente quando conhece o príncipe Kai e, embora por motivos de força maior, acaba por ir ao baile e passar uma vergonha das antigas (bem ao estilo blockbuster americano...). Eu nem digo que a moça não fosse ao baile (que raio, a Cinderela sem baile não é Cinderela!) mas com tanta intriga política e com tanto mistério, tanta acção a coisa podia ter sido toda um bocadinho menos previsível.  É que, caramba, a personagem tem todas as características necessárias para se tornar uma durona, um personagem feminino forte que não está - nunca esteve ao longo do livro - à espera que o príncipe venha salvá-la mas um leitor um bocadinho mais experiente consegue adivinhar o desfecho TODO mais ou menos a meio do livro. É uma pena porque a moça tem potencial (e a ideia por detrás do livro também, sejamos justos).

Ficou por explicar o mistério todo por detrás dos Lunares. Sim, há vida na Lua e gostei bastante da ideia mas a autora falhou ao não a desenvolver, pelo menos neste volume. Não sabemos de onde vêm os poderes dos Lunares ou o porquê da maldade que parece ser genética na sua família real e súbditos mais próximos. São maus porque são maus!! Mas penso que a ideia da autora talvez tenha sido introduzir o tema para depois o desenvolver noutro livro. Pelo menos, dá disso sinais. Outra coisa que me custou um bocado foi a falta de caracterização dos personagens (excepto a rainha má - Levana). Só nos são dados aspectos mais ou menos genéricos, não há uma descrição mais detalhada e, por vias de estarmos em Nova Pequim, levei o tempo a tentar imaginar as personagens na sua versão oriental (sem contar com os lunares, o doutor, Fateen e a própria Cinder porque nos são apresentados como tendo algumas características diferentes. Mas se calhar, também não fui muito bem-sucedida nesta parte). Foi confuso!!

Em suma, é uma leitura leve  e que acaba por fluir muito facilmente devido a toda a acção e ao humor (principalmente com o andróide Iko que conseguiu arrancar-me boas gargalhadas e até uma lagrimita com o seu destino...). A heroína e o cenário têm imenso potencial e podem evoluir de forma muito positiva mas, antes de ler, lembrem-se que se trata da Cinderela e que é literatura YA. Vou, sem sombra de dúvida, dedicar-me a Scarlet - o segundo volume da série - logo que possível.

6,5/10

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