terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Balanço das leituras de 2013

Ora, 2013 foi, como sabem um ano complicado para mim a nível de leituras. A falta de tempo reinou no segundo semestre do ano e foram muitos os livros que ficaram por ler, muitas as opiniões que ficaram por publicar. Ainda assim, li 46 livros o que significa que consegui ver 84% do desafio Goodreads cumprido, apesar de ter havido algumas alturas do ano em que nem sequer sonhei chegar tão longe. Todos estes livros se traduzem em 19.169 páginas lidas o que, segundo o meu contador, é o maior número de páginas que li num ano desde 2010.

O livro com mais páginas que li foi o Kushiel´s Scion da Jacqueline Carey - 944 páginas. Este é um feito que me deixa particularmente orgulhosa porque li tudo, tudinho no inglês original. Se bem se lembram, no final do ano passado tinha-me proposto a mim mesma o desafio de ler 10 livros em inglês. A coisa não correu como o esperado (só li 3 e tenho o 4º a meio) mas a verdade é que este Kushiel's Scion superou tudo!! Além disso, foi, sem sombra de dúvidas, uma das melhores leituras de 2013.

O livro que tão orgulhosa me deixou é o início de uma trilogia ou a continuação de uma saga, como há quem o classifique. Além desta, iniciei 14 séries/ sagas ou trilogias. O  número é elevado mas pretendo continuar a seguir, pelo menos, 11 destas novidades. Ainda a nível de sagas e trilogias, posso dizer-vos que terminei 5 daquelas cuja leitura já tinha iniciado em anos anteriores. Fiquei triste com o fim de algumas. Há sempre aqueles universos que nunca deveriam ser abandonados, sagas que nunca deveriam ter fim...

A grande maioria dos livros que li este ano pertencem às categorias de fantasia e distopia. Foi precisamente com o desafio "Dystopia Reading Challenge" que conheci  um maior número de novos autores, iniciei um maior número de sagas e li alguns dos melhores títulos do ano. Este foi, na verdade, o desafio que melhor me correu. Tinha-me proposto chegar ao nível Rebel que consistia na leitura de 7 a 12 livros desta categoria e consegui ultrapassar essa meta e alcançar o título de Revolutionist (entre 13 e 18 livros). Claro que tendo a coisa corrido tão bem já me ando a preparar para me inscrever no desafio de 2014.

Finalmente, no que a desafios diz respeito, o Queen's Challenge foi o meu grande fracasso. Não cumpri nada deste desafio mas já tenho previsto conseguir levar a situação a bom porto no ano que ai vem. Veremos se é desta!!

Apresentada a estatística e feito o balanço dos desafios resta-me, antes de apresentar o Top 10, mencionar o facto de que este foi um ano de grandes descobertas, tanto a nível de autores como de títulos, mas também um ano de enormes desilusões e desapontamentos. Acho que nunca, em um só ano, consegui ler (ou tentar ler) livros que viessem tão bem cotados e que, no fim, tenham sido um tão grande desapontamento. Li grandes fiascos este ano!! Mas também li muitas coisas boas, são as melhores de entre elas que vos deixo aqui:


As melhores distopias de 2013





As melhores leituras noutros géneros literários




Desejo a todos um 2014 cheio de boas leituras. Até para o ano... :)

sábado, 28 de dezembro de 2013

Aquisições Natalícias

O Natal já passou há uns dias e este ano fiquei muito, muito contente. Para quem gosta de ler, receber livros é sempre uma alegria. Claro que há sempre quem ache que não vale a pena oferecer-me livros porque eu tenho demasiados (what??? Demasiados livros?? Isso é coisa que não existe...) mas, regra geral recebo sempre 2 ou 3. Ajuda, como é óbvio, ter uma irmã que gosta de se armar em "ajudante do pai natal" e a quem dou, no início de Dezembro, uma lista com aquilo que gostava de receber comprometendo-me a não comprar nenhum dos livros mencionados. Pode parecer estúpido ou infantil mas a verdade é que a coisa resulta... :) Ora vejam lá se não resulta:








Entre a minha irmã, os meus avós, tias e amigas recebi todos estes livrinhos e todos estavam na minha lista :)
O que significa que já tenho muitas e boas coisas para ler no início de 2014. É só esperarem um bocadinho, eu hei-de publicar as opiniões :)

Aproveito para deixar um beijo e um obrigada (mais uma vez) a quem contribuiu de maneira tão especial para o meu natal e as minhas futuras leituras. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal


Como já devem ter reparado, nos últimos tempos, o tempo (ai, menina a redundância!!) é coisa que escasseia por estas bandas. Tenho tantas coisas que vos queria mostrar aqui ainda antes do final do ano... E tão pouco tempo! De qualquer modo, estamos no Natal (quase literalmente) e é entre filhós e rabanadas a meio fazer que, recuperando aquela que para mim é a imagem do blog, vos venho desejar a todos um óptimo Natal junto daqueles que são mais importantes nas vossas vidas. Espero que o senhor das barbas possa rechear-vos a quadra com páginas e páginas de aventuras.
Prometo voltar em breve mas, por agora, os docinhos aguardam :)

Feliz Natal e boas leituras 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

The Broke and The Bookish Secret Santa Parte II



Hoje voltei a ser "vítima" do meu Secret Santa (a culpa é minha, fui eu quem se pôs a jeito... :) ) e... ADOREI!! A sério, recebi, por esta via, a minha primeira prenda de Natal deste ano. Claro que ainda pensei em não abrir a encomenda, esperar pelo Natal propriamente dito, mas acabei por não conseguir aguentar-me. A curiosidade é aquela coisa... E como se não bastasse, a minha querida Secret Santa ainda acertou em cheio. Da lista que lhe foi enviada, conseguiu acertar em cheio naquele que eu mais queria, aquele que andava debaixo de olho já há uma data de tempo. ;)   E ainda tive direito a uns miminhos. Uma tablete de chocolate da Freia, edição especial Much, (posso assegurar-vos que é mesmo bom!!) e uns docinhos típicos lá do Natal da Noruega (esses também ERAM bons... :) ) Ora vejam:






Como já vos tinha dito, a minha Secret Santa escrevia português. Pois é, a Juliana é brasileira (não havia de falar português!?!? Ah, pois...) e há dois anos que vive em Oslo. Depois de revelado o mistério, dei um saltinho ao blog dela (podem ver aqui) e descobri que além de ter os gostos literários parecidos com os meus, vai publicando algumas curiosidades acerca da cultura norueguesa e da vida naquele país. E no fim de tudo, ainda descobri que, por minha causa, a comunidade postcrossing tem mais um membro. 

Com tudo isto como é que podia não adorar esta experiência? Impossível. 
Claro que a minha parte da brincadeira está algo mais demorada (os senhores do bookdepository nunca mais me enviam a prenda que tenho que enviar para o Chile!!!) mas as coisas hão-de se resolver e depois teremos notícias da minha "vitima" por aqui e no blog dela...
No próximo ano, se voltarem a repetir, vou voltar a  participar - foi, de facto, uma experiência das muito boas.

domingo, 8 de dezembro de 2013

O Silo

Título: O Silo
Saga ou série: Wool (Woll, #1-5)
Autor: Hugh Howey
Edição: Ed. Presença
ISBN: 9789722351409
Nº de páginas: 528

"Num mundo pós-apocalíptico, encontramos uma comunidade que tenta sobreviver num gigantesco silo subterrâneo com centenas de níveis, onde milhares de pessoas vivem numa sociedade completamente estratificada e rígida, e onde falar do mundo exterior constitui crime. As únicas imagens do que existe lá fora são captadas de forma difusa por câmaras de vigilância que deixam passar um pouco de luz natural para o interior do silo. Contudo há sempre aqueles que se questionam... Esses são enviados para o exterior com a missão de limpar as câmaras. O único problema é que os engenheiros ainda não encontraram maneira de garantir que essas pessoas regressem vivas. Ou, pelo menos, assim se julga..."

Esta história tem lugar num mundo pós-apocalíptico, numa terra completamente árida e devastada  na qual subsiste, vivendo num enorme silo subterrâneo, uma comunidade de centenas de pessoas. Não sabemos muito bem o que é que aconteceu nem como é que as coisas aconteceram. Aquilo de que rapidamente nos apercebemos é que a comunidade está ali há várias gerações e vai diminuindo cada vez mais. Por outro lado, é fácil adivinhar que, seja qual seja a catástrofe que se abateu sobre o mundo, ela foi (como é que podia não ser?) originada pelo Homem. Toda a vida no silo é altamente controlada. O próprio silo está dividido em mais de 140 andares e, como não podia deixar de ser, os que vivem mais perto do topo julgam-se superiores aos operadores de máquinas dos pisos inferiores. O que poucos sabem é que, no meio desta sociedade há quem não seja exactamente aquilo que parece e tenha como função controlar tudo e todos. Há inúmeras coisas que não podem ser feitas, mais ainda que não podem ser ditas e uma única que nem deve ser sequer pensada - o exterior e  a vida ali. 

Na verdade, o exterior é simultaneamente um desejo (talvez por ser proibido) e uma verdadeira fonte de medo - medo do desconhecido, medo de represálias e castigos, medo da limpeza... A única conexão com o exterior resume-se a alguns ecrãs, espalhados sobretudo pelos níveis superiores do silo, que transmitem continuamente e em tempo real, a imagem captada por algumas câmaras de filmar colocadas lá fora. Mas as lentes sujam-se e quem é condenado por algum crime de maior gravidade tem como pena fazer a limpeza das mesmas. O problema é que, além de o simples facto de falar do exterior ou pôr em causa o sistema e a vida naquela comunidade ser considerado crime capital, condenação à limpeza é sinónimo de condenação à morte. Ninguém sobrevive a uma limpeza das lentes.

A estrutura desta magnifica narrativa, que rapidamente se juntou a Passagem como uma das melhores distopias de sempre na minha lista pessoal, está dividida em 5 POV's ao longo dos quais vamos conhecendo melhor todos os personagens envolvidos na trama e nos vai sendo revelado o mistério central. Gostei deste divisão. Permite-nos compreender a profundidade de cada personagem, as suas escolhas e motivações, permitindo-no colher subtilmente a informação. Isto é, o leitor não é bombardeado com os dados todos de uma vez ou de maneira descabida; as informações vão sendo dadas na medida certa, permitindo ao leitor interiorizar todas as implicações e pensar sobre a realidade que lê. Todos os personagens estão muito bem caracterizados e são pluridimensionais, vão crescendo com a história, e a heroina - Juliette - não é diferente. Na verdade, ela só aparece já no final do primeiro terço do livro mas o leitor facilmente se identifica com ela e rápido nos afeiçoamos a uma jovem determinada, forte, prática e que diz aquilo que pensa. Claro que sendo uma verdadeira kick ass, esta mistura não pode dar muito bom resultado...

Escrito de um modo muito simples e directo, este livro tem a grande vantagem de não ser uma distopia YA. Não há triângulos amorosos irritantes nem coisas que se resolvem como que por magia. Não. Aqui todas as coisas têm a sua razão de ser, todas as causas nos são explicadas de uma maneira ou de outra e com o desenrolar da narrativa o leitor começa a pensar... Começamos a pensar e a verdade é que nos apercebemos que aquele futuro, ou um semelhante, são algo muito possível de vir a acontecer num futuro mais ou menos distante. O Homem destrói-se e ao que o rodeia a todo o momento. Por outro lado, a sociedade manipulada, estrangulada e ludibriada que o autor nos descreve não é muito diferente daquelas em que vivemos. Há sempre algo maior mas escondido, os serviços secretos a não querer divulgar informação, corrupção e um sem número de outros pecados sociais aos quais fechamos os olhos diariamente enquanto os aceitamos passivamente. Não podemos deixar de concluir que aquele é um futuro possível, em circunstâncias semelhantes talvez agíssemos da mesma maneira e, acima de tudo, este Silo serve também de metáfora, de retrato às sociedades em que vivemos. Mas até que a conclusão esteja completa temos momentos de uma leitura muito prazerosa e que nos leva a pensar em temas bastante sérios sem que quase nos demos conta.

Recomendado
8/10

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Top Ten Tuesday - Top Ten 2014 releases I'm dying to read


Esta semana o Top Ten é sobre os lançamentos, previstos para 2014, pelos quais mal podemos esperar. Dado que tenho andado um bocado "fora de jogo" e não estou tão por dentro da temática como gostaria, tive que fazer uma visita ao Goodreads para saber o que ai vem. Por outro lado, não leio apenas em inglês e as coisas têm sempre tendência a demorar a chegar ao nosso cantinho à beira mar plantado. Assim, decidi fazer uma lista daquilo que eu sei que, em principio, sairá no próximo ano (em língua original) e uma na qual coloquei aquelas coisas que eu gostava de ver traduzidas para português. Não sei se terei alguma sorte com esta última lista mas... a esperança esta cá!!


Ora, tanto quanto sei, poderão sair em 2014, os seguintes títulos:













E AINDA:  
(desculpem, não encontrei as imagens de capa...)


The Thorn of Emberlain (Gentleman Bastards, #4)  Scott Lynch

The City of Mirrors (The Passage, #3) Justin Cronin

The Skull Throne (Demon Cycle, #4) James V. Brett

Clariel (Abhorsen, #4) Gart Nix

The Doors of Stone (Crónicas do Regicida, #3 / The Kingkiller Chronicle, #3)




Já eu, gostava de poder ler no nosso português os seguintes títulos:








  
    Terei alguma sorte???

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

The Broke and The Bookish Secret Santa... Já cheira a Natal

Há uns dias no The Broke and The Bookish (blog que sigo regularmente) vi um post acerca do natal. É uma coisa um bocadinho ao estilo do "amigo secreto" que fazíamos na escola e apesar do desemprego (do meu, entenda-se) e daquela boa senhora que dá pelo nome de crise, decidi que o meu espírito natalício não aguentava não participar. Posto isto, lá mandei o mail e cumpri, o melhor que sabia, com os requisitos pedidos e, passados uns dias, chegou a morada da minha "vítima" ;)



Mas isto tudo vem  a propósito de quê? Vem porque hoje recebi este postalinho da Noruega. Sabendo que adoro correio tradicional e que até sou membro da comunidade postcrossing (dêem uma vista de olhos se gostam de postais, selos e correio tradicional, vão gostar), a minha "amiga secreta", aquela de quem sou eu a vitima (quem serás...??) mandou-me uma aurora boreal!! Tenho que agradecer, foi mesmo uma querida e eu adorei o miminho que me animou o dia.
Além disso, há um pormenor interessante, o selo e o postal são da Noruega e, não sabendo quem é, não sei se a minha "amiga secreta" vive por lá mas... o postal vinha escrito em português!! (é por isso que o post também está na lingua de Camões, agora já sei que ela me entende ;) )
É por estas e outras que adoro o Natal!!

E agora, uma vez que já não fui a tempo de uma iniciativa parecida a nível nacional (troca de postais de natal entre bloggers - como é que isto me passou ao lado?!?!), vou dedicar-me a preparar a prenda da minha "vítima natalícia" enquanto espero a chegada de uma surpresa. ;) 


Se ficaram curiosos, podem consultar a iniciativa, que já vai no 4º ano consecutivo, aqui.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Maze Runner

Título: Maze Runner - Correr ou Morrer
Série/ Saga: Maze Runner (Maze Runner, #1)
Autor: James Dashner
Edição: Ed. Presença
ISBN: 9789722348508
Nº de páginas: 397

Quando desperta, não sabe onde se encontra. Sons metálicos, a trepidação, um frio intenso. Sabe que o seu nome é Thomas, mas é tudo. Quando a caixa onde está para bruscamente e uma luz surge do teto que se abre, Thomas percebe que está num elevador e chegou a uma superfície desconhecida. Caras e vozes de rapazes, jovens adolescentes como ele, rodeiam-no, falando entre si. Puxam-no para fora e dão-lhe as boas vindas à Clareira. Mas no fim do seu primeiro dia naquele lugar, acontece algo inesperado - a chegada da primeira e única rapariga, Teresa. E ela traz uma mensagem que mudará todas as regras do jogo.

Decidi ler este livro, como tantas vezes acontece, depois de ter visto opiniões muito favoráveis de outros bloggers que, normalmente têm opiniões muito semelhantes às minhas. Não é que me tenha desiludido, simplesmente não o achei tão bom quanto os outros diziam. Talvez o mal tenham sido as expectativas elevadas com que parti para a leitura... este é um aspecto que pode arruinar tudo! Não é um mau livro, só não o achei uma verdadeira maravilha.

Toda a acção tem lugar num gigantesco e claustrofóbico labirinto (eu sei, gigantesco e claustrofóbico são ideias algo antagónicas mas... acreditem) no qual os personagens se encontram cativos. Numa primeira análise, conseguimos perceber que são todos jovens, todos rapazes de idade indeterminada e nenhum sabe como foi ali parar. Ainda assim, resignam-se ao seu destino e organizam a sua sociedade de maneira a que funcione sem grandes problemas e seja sustentável. Até aqui percebo, afinal de contas um corpinho ocupado pelo trabalho acaba por conseguir manter ao largo ideias subversivas e esperanças vãs. Mas... aceitar as coisas assim de animo leve? "As coisas são o que são e aguenta-te com isso"... não me parece. Não bate certo, são adolescentes, estão na idade de descobrir, de não aceitar e de se revoltar. Claro que o facto de o labirinto parecer não ter saída e albergar uns seres assassinos geneticamente modificados pode contribuir para a aceitação da situação mas achei-a muito forçada. Tão forçada como alguns dos personagens. Bem, na verdade são todos muito parecidos (os rapazes que estão dentro do labirinto) e até o personagem principal me pareceu algo fraquinho, pouco profundo. O personagem que me parece mais bem conseguido é mesmo o antigo "caloiro", o "amigo" do Thomas (o personagem principal), um personagem secundário mas que me fez, de facto, pensar que é dotado de uma personalidade mais complexa que os demais. Quanto ao elemento destabilizador da história, a única rapariga no labirinto, Teresa, achei-a tão apagada que é quase como se não estivesse ali. Quer dizer, ela traz toda uma série de informações e desencadeia uma série de acontecimentos que vão virar o labirinto do avesso contudo, no que à personalidade diz respeito, nada nela se destaca.

Se a densidade psicológica e a descrição física dos personagens é fraca o mesmo não se pode dizer das descrições das cenas de acção e dos cenários em que as mesmas decorrem. Este é um dos pontos altos do livro. Não sabemos nada do mundo para lá do labirinto mas as descrições deste, da Clareira e a forma como a vida nela está organizada são algo a realçar. Às vezes parecia-me que se levantasse os olhos da página ia ver aquelas enormes paredes cobertas de trepadeiras ali mesmo à minha frente. Gostei do medo e da tensão crescente que o autor consegue transmitir ao longo das últimas cenas, com as lutas a serem travadas em diferentes planos e os personagens, literalmente, a correr pela vida. Aqui o leitor consegue mesmo ter a percepção do que poderia sentir se algum dia se visse a braços com uma situação daquele tipo, sem saber quem é, porque está em determinado local, porque é atacado.... tudo desaparece menos a vontade de lutar e/ou fugir o mais rápido possível. A transmissão de sentimentos é, definitivamente, algo em que o autor é muito bom (coisa estranha dada a densidade psicológica dos personagens!!!).

Relativamente à narrativa em si, o autor, verdade seja dita, não perde tempo e logo nas primeiras páginas deixa alguns elementos de mistério e suspense que nos irão acompanhar ao longo de todo o livro (e mais além em alguns casos). Ainda assim, na primeira metade do livro o ritmo a que a narrativa se desenvolve é bastante lento e isso causou-me algumas dificuldades. Tem uma abertura em grande e o abrandamento que se verifica logo de seguida pode ser um pouco frustrante. A partir do meio do livro as coisas começam a mudar. A acção torna-se quase frenética e grande parte das nossas perguntas conseguem ter resposta. Confesso que este foi um ponto de que gostei no livro, o leitor consegue, de facto, ver alguns daqueles que parecem ser os grandes mistérios da trama resolvidos e justificados. Coisa rara numa série? Pois sim, mas parece-me que algumas coisas ainda podem mudar de figura!!

Concluindo, os personagens são fracos e irritaram-me um bocadinho pela previsibilidade mas há outros pontos que compensam esta falha e o mistério deixado no ar mesmo na última página deixou-me com vontade de ler o segundo volume (à laia de segunda oportunidade). Pode ser que no próximo livro os pontos negativos sejam esbatidos e me veja mais envolvida na história, mais ligada aos personagens.

6/10

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Divergente

Título: Divergente
Série/Saga: Divergent, #1
Autor: Veronica Roth
Edição: Porto Editora
ISBN: 9720043814
Nº de páginas: 352

"Na Chicago distópica de Beatrice Prior, a sociedade está dividida em cinco fações, cada uma delas destinada a cultivar uma virtude específica: Cândidos (a sinceridade), Abnegados (o altruísmo), Intrépidos (a coragem), Cordiais (a amizade) e Eruditos (a inteligência). Numa cerimónia anual, todos os jovens de 16 anos devem decidir a fação a que irão pertencer para o resto das suas vidas. Para Beatrice, a escolha é entre ficar com a sua família... e ser quem realmente é. A sua decisão irá surpreender todos, inclusive a própria jovem.
Durante o competitivo processo de iniciação que se segue, Beatrice decide mudar o nome para Tris e procura descobrir quem são os seus verdadeiros amigos, ao mesmo tempo que se enamora por um rapaz misterioso, que umas vezes a fascina e outras a enfurece. No entanto, Tris também tem um segredo, que nunca contou a ninguém porque poderia colocar a sua vida em perigo. Quando descobre um conflito que ameaça devastar a aparentemente perfeita sociedade em que vive, percebe que o seu segredo pode ser a chave para salvar aqueles que ama... ou acabar por destruí-la."


Parti para esta leitura, com algumas reticências tenho que confessar, depois de, por mais de um ano, ver o meu primo mais novo todo entusiasmado com os livros. Nos últimos tempos tem predominado (este cantinho não é excepção) a distopia e há-as muito boas. Prova disso são as últimas que li, têm sido óptimas surpresas. Contudo, por qualquer razão que ainda não consegui descortinar, não esperava muito deste livro. Se eu soubesse... já o tinha lido há muito tempo :) , adorei.

Ao ler a sinopse pensei que com tantas facções, tantos grupos diferentes, me ia ser complicado entrar no espírito desta Chicago futurista. Mais uma vez, estava enganada. Tudo, desde as primeiras páginas, serve para nos levar a compreender bem o world building, embora, por vezes, de um modo subtil. A populosa cidade vive isolada, virada para si mesma - o exterior é algo em que não se pensa, algo temido e encarado, na maior parte das vezes, como algo praticamente inexistente. Fechada sobre si mesma, a cidade reflecte o que se passa com a maioria dos seus habitantes e com as facções que compõem a sociedade estratificada em que vivem. Ainda que, acima de tudo, um individuo deva pensar na facção à qual pertence e nos objectivos da mesma, o ser humano é um animal egoísta por natureza. Egoísta e dissimulado. Todos se fecham em si mesmos, velando os seus pensamentos e vontades mais profundas, dando sempre a ideia de que a facção vem em primeiro lugar, embora tudo façam para poder ver cumpridos os seus desejos. 
As comunidades/ sociedades ideais não existem, ou, pelo menos, não subsistem por muito tempo pois que é o ser humano que as forma e molda e em cada um de nós o bem e o mal degladiam-se a todo o momento; por muito bem intencionados que sejamos, por vezes, as nossas vontades e desejos pessoais, sobrepõem-se ao interesse do todo e ao "bem comum" é isto que podemos constatar ao ler esta estranha distopia YA.

Penso sinceramente que o que faz com que este livro agrade tanto aos mais jovens como aos adultos é o facto de, para lá da história de coragem e romance, das intrigas políticas e dos segredos desvendados, ser feita (muito bem feita) uma profunda análise sobre o ser humano, a sua natureza e os seus comportamentos em diferentes contextos. Através de Tris, uma jovem que, aos 16 anos, deixa para trás a sua família e tudo aquilo que conhecera até à data para se juntar a uma facção diferente daquela onde foi educada, somos guiados ao interior do ser humano numa procura incessante pelo auto-conhecimento. Este é um processo em que será necessário enfrentar-se aquilo que mais nos pode aterrorizar - nós mesmos tal como somos, repletos de medos e desejos; medo de nós, da rejeição; desejo de sermos alguém diferente, de ser aceite ou desejo por outrém. Assim, a narrativa, com a sua linguagem simples mas fluída, acaba por ser um espelho das dificuldades interiores pelas quais todos  passamos ao longo das nossas vidas e também uma reflexão sobre o ser humano e a vida em sociedade.

Devo ainda referir que, a mim pessoalmente, me agradou muito o facto de não haver triângulos amorosos irritantes e de que a história de amor existente não seja uma daquelas "chachadas melosas" que me mexem com o sistema nervoso (pois, o romantismo para estes lados continua pelas ruas da amargura. Fazer o quê??)

Em resumo, a história é apelativa e a linguagem é simples. Apesar de aparentemente ser um mundo complexo, a autora foi capaz de o tornar simples e consegue que o leitor compreenda perfeitamente todos os aspectos deste cenário futurista e que se identifique com vários personagens (sim, vários). Contudo, o ponto alto para um leitor mais exigente não se prende com a história em si, com a sua construção, inovação ou nível de intriga e suspense. Aquilo com que este livro me conquistou foi a subtil mas profunda (um bocadinho antagónico? nada de stress, vocês entendem-me...) análise  do ser humano e da vida em sociedade.
Recomendadíssimo

8/10

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Cidade dos Ossos

Título: Cidade dos Ossos
Série/Saga: The Mortal Instruments (The Mortal Instruments,#1)
Autor: Cassandra Clare
Edição: Planeta
ISBN: 9789896570231
Nº de páginas: 415


"No Pandemonium, a discoteca da moda de Nova Iorque, Clary segue um rapaz muito giro de cabelo azul até que assiste à sua morte às mãos de três jovens cobertos de estranhas tatuagens.

Desde essa noite, o seu destino une-se ao dos três Caçadores de Sombras e, sobretudo, ao de Jace, um rapaz com cara de anjo mas com tendência a agir como um idiota..."


Esta é uma série que tem feito enorme sucesso, não apenas entre os mais novos mas também no seio de um público algo mais adulto. Talvez não tenha sido muito boa ideia ter lido opiniões de outras pessoas antes de ler os livros... A verdade é que isso me fez ter expectativas muito altas em relação aos livros e pode ter prejudicado a minha opinião sobre este primeiro volume.  

Devo dizer que a leitura é muito fácil, porque a linguagem e a profundidade da narrativa assim a tornam, e que a história tem sempre um ou outro elemento que nos desperta a curiosidade mas não me satisfez de todo. Há simplesmente muitas coisas que não encaixam ou que mereciam ser diferentes a começar na explicação deste mundo criado pela autora. No final do livro as coisas já são algo mais claras mas até quase metade do mesmo é como se tivéssemos sido atirados aos leões e não percebemos muito bem como nem por quem. As explicações tornam-se mais numerosas e completas a partir de determinado ponto da narrativa mas até lá a leitura é algo confusa. Suponho que, sendo uma saga, as coisas se vão tornando cada vez mais claras ao longo dos livros posteriores.

As personagens foram, para mim, o maior dos problemas. São extremamente estereotipadas e têm comportamentos e reacções muito pouco justificados e justificáveis. A Clary, por exemplo (é a personagem principal). O modo como ela se junta aos Caçadores de Sombras é tudo menos plausível, juro que me fez lembrar aqueles antigos anúncios dos detergentes em que um desconhecido aparecia, vindo do nada, na cozinha e a dona de casa aceitava logo e sem hesitações, ir com ele para dentro dos lençóis (literalmente. Não sei se se lembram disso mas cada vez que passava um anúncio desse género eu ficava, na inocência infantil característica da idade, a matutar na estupidez da situação)!! Isto para já não falar da maneira como todos os seus problemas se parecem resolver como que por magia, do modo que a ela lhe dá mais jeito (really?!?). Neste ponto (o dos personagens) há de todo o que é estereótipo desde a menina crédula; passando pelo "cara de anjo" revoltado e com a mania que é mau; continuando com a boazona fútil que não tem pejo em brincar com os sentimentos dos outros; a acabar no melhor amigo que está caidinho pela protagonista que nem sequer nota. Por favor!! Até os vilões são estereótipos pouco profundos daqueles que somos capazes de encontrar em qualquer lado. Claro que isto tudo faz com que me tivesse limitado a viajar pela história sem que fosse incapaz de me ligar a qualquer personagem. Detesto quando isso acontece.

O final tem ali uma reviravolta que poderia ter sido interessante se eu não tivesse adivinhado a coisa antes. Não sei o que me fez pensar naquela hipótese mas a verdade é que a ideia nasceu e foi ganhando raízes e, no final, acabou por se confirmar. Enfim, nem o final à la Eça me satisfez...!! As melhores cenas acabam por ser mesmo as descrições das lutas e de alguns cenários (não todos).

Concluindo (e porque não quero entrar por aqui em muitos spoillers - porque havia muito mais queixas a fazer!!) foi uma leitura rápida e que deu para me entreter numa tarde de fim de semana mas que esteve bastante longe de me encher as medidas. Compreendo perfeitamente que o humor e a linguagem consigam cativar um leitor mais jovem a quem, na realidade, o livro se dirige e espero sinceramente que as coisas vão melhorando ao longo dos volumes posteriores. Por ser uma saga que tem imensos fãs e da qual a maioria das pessoas fala muito bem, por este ser apenas o primeiro volume, talvez lhe dê uma nova oportunidade (vocês sabem que eu não sou de desistir assim ao primeiro volume) mas já não vou com grandes esperanças.

4,5/10

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Juliet Marillier em Portugal com novo livro

Ultimamente a vida tem-se metido no meio destas coisas que eu gosto de fazer e, como já devem ter reparado, não tenho tido oportunidades de actualizar o blog e o facebook. Na verdade, até tenho andado um bocado desligada e nem me tenho apercebido bem das novidades. Mas esta vale bem a pena!!! Quer dizer, é novidade para mim, pode ser que muitos de vocês já a vejam como uma notícia ultrapassada... Mesmo assim, aqui vai.

Alegrem-se os fãs de Juliet Marillier pois é já daqui a 15 dias (sim, mais coisa menos coisa) que vamos poder ler a tradução portuguesa de Raven Flight - Voo do Corvo. Este é o segundo livro da trilogia Shadowfell e, no que me respeita, estou bastante curiosa.



Além disso, como a autora já havia anunciado aqui... Juliet Marillier estará em Portugal de 6 a 9 de Novembro. Ainda se desconhece toda a agenda da autora mas, tanto quanto consegui saber, parece ser certo que a podemos ver e ouvir (além de recolher alguns autógrafos) dia 7 de Novembro, pelas 18:30, na FNAC do C. C. Colombo.

Ora, são ou não boas notícias?

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Aquisições de Setembro

Já passou mais um mês e desta vez não me portei mal de todo. Tenho andado a ler todos aqueles livrinhos que formaram, desde o início do ano, uma pilha que cresce cada vez mais junto da minha cama!! Apesar das novidades que me tentam a toda a hora tenho andado a "segurar-me" e até nem tem corrido mal :)












segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Os Doze

Título: Os Doze
Série/Saga: Passagem (Passagem, #2)
Autor: Justin Cronin
Tradução: Miguel Romeira
Edição: Presença
ISBN: 9789722350037
Nº de páginas: 728


Os Doze é a sequela de A Passagem, um bestseller internacional que nos dá a conhecer um mundo transformado num pesadelo infernal por uma experiência governamental que não correu como previsto. No presente, à medida que o apocalipse provocado pela mão humana se vai intensificando, três personagens tentam sobreviver no meio do caos. Lila, uma médica e futura mãe; Kittridge, que se viu obrigado a fugir do seu baluarte com poucos recursos; e April, uma adolescente que se esforça por manter em segurança o irmão mais novo num cenário de morte e destruição. Mas, embora ainda não o saibam, nenhum dos três foi completamente abandonado...

A uma distância de 100 anos do futuro, Amy e os outros sobreviventes continuam a lutar pela salvação da humanidade... sem se aperceberem de que as regras foram alteradas. O inimigo evoluiu, e surgiu uma nova ordem negra com uma perspetiva do futuro infinitamente mais terrífica do que a da própria extinção humana.

Não se está a revelar uma tarefa nada fácil falar deste livro. Por um lado não quero entrar em spoilers, por outro é um livro longo e, como se tal não bastasse, é um livro com uma estranha densidade. Tinha uma enorme vontade de ler esta sequela de A Passagem desde que li o primeiro volume da trilogia (podem ler opiniões aqui e aqui); queria muito saber se o autor conseguia manter o nível e como ia continuar a desenvolver um mundo que em tantas coisas é tão semelhante ao mundo dos nossos dias sendo, simultaneamente, aterradoramente diferente. Não fiquei desiludida. 

A narrativa tem lugar em 3 fases, um pouco à semelhança daquilo que já havia acontecido no volume anterior, com loops e saltos temporais que primeiro nos confundem mas depois se revelam mais do que justificados. 
A acção central tem lugar 5 anos após os acontecimentos narrados no volume anterior mas numa fase inicial somos de novo transportados ao Ano Zero e a 79 D.V. No Ano Zero deparamo-nos com um novo leque de personagens e, devo confessar, que de inicio não percebi muito bem porque nos eram apresentadas. Mas com Cronin tudo tem uma razão de ser e, se não o perceberem antes, quando estes capítulos chegarem ao final vão compreender perfeitamente quem são. Através deles somos capazes de compreender como é que a humanidade lidou com o vírus quando se deu a catástrofe. Já tínhamos tido umas luzes sobre a temática mas principalmente pelos olhos de Amy, Wolgast e do pessoal do Chalé. Desta vez vemos os acontecimentos pelos olhos de pessoas normais que nada sabiam do que se passava. Todas estas personagens são, à sua maneira, fortes mas cheias de fraquezas e defeitos, são muito humanas e torna-se fácil para o leitor conseguir identificar-se com a maioria delas e sofrer pelo destino que lhes sabemos reservado. É uma fase narrativa que serve principalmente para mostrar a humanidade como um todo cheio de vontade de viver que luta até a o fim contra as adversidades e para dar a conhecer ao leitor um pouco mais das raízes de alguns personagens, das colónias e até do disseminar do vírus.

No ano 79 D.V. conhecemos uma nova colónia. Não uma pequena colónia como aquela onde viviam os protagonistas principais desta trilogia, mas uma verdadeira cidade que conseguiu subsistir e combater os perigos que o pôr do sol trás. Ainda assim, as equipas de segurança não são invenciveis e, por vezes, o pior acontece. O pequeno episódio narrado parece, mais uma vez, algo descontextualizado contudo, à posteriori, as peças encaixam na perfeição. É esta uma das capacidades que mais admiro no autor. É um especialista em explicar-nos de forma não linear que nenhum dos personagens está num determinado local por acaso, assim como também não há coincidências no desenrolar de acontecimentos e nos encontros entre todos os personagens. Tudo é justificado, nada acontece por acaso mas o leitor tem que tirar as suas próprias ilações, encontrar o fio condutor e compreender o todo. Estes capítulos também têm como finalidade mostrar ao leitor como um único momento pode definir aquilo em que uma pessoa se torna, moldá-la e determinar a forma como se vai comportar pela vida fora (as escolhas feitas nem sempre são tão aleatórias como podem parecer).

Já no ano de 97 D.V, o período em que a narrativa central se desenrola, as coisas não correm como o desejado aos protagonistas e a caçada pelos Doze está ameaçada. Em vez de vos fazer aqui um resumo da coisa vou apenas tentar expor aqueles factos que achei mais determinantes para o que pode vir a seguir e os aspectos que achei melhor conseguidos como, por exemplo, a existência de uma sociedade fascista com ambições imperiais. Se pensávamos que havia coisas más que se haviam perdido com a quase extinção da humanidade... estávamos enganados. O ser humano, por vezes parece quase naturalmente mau, tem dentro luz e sombras que o tornam aquilo que é e quando humanos ambiciosos se tornam algo mais e possuem poder acima dos demais as coisas, normalmente, não acabam bem. Numa sociedade ameaçada e que tenta reerguer-se das cinzas um poder superior que se impõe e usa a defesa  do "bem estar dos mais fracos" como forma de se afirmar, tendo à cabeça uma louca e um egoísta narcisista, é capaz de só poder acabar mesmo em injustiça, abuso e sofrimento. Há um sublimar da maldade e um enorme desprezo por tudo o que é diferente e mais fraco nesta nova sociedade que espelha bem demais a nossa própria sociedade, o nosso comportamento quotidiano e o modo individualista como actuamos face aquilo que nos rodeia. E aqui a nova visão que temos dos virais é um dos aspectos mais estranhos. Alguns conseguem pensar, organizar-se e tornar-se algo mais que máquinas de matar enquanto que outros não passam de restos daquilo que um dia foram. Será do sangue que os transformou? Poderá haver algo mais que venha a justificar estas tão marcadas diferenças no seio de uma espécie nova e da qual pouco sabemos? Os comportamentos dos mesmos em relação uns aos outros e à raça humana também são intrigantes, chegando mesmo a ser inquietantes (este aspecto ainda não ficou muito bem explicado mas suponho que no próximo livro as coisas se tornem mais claras). Há um sublimar da maldade e um enorme desprezo por tudo o que é diferente e mais fraco nesta nova sociedade que espelha bem demais a nossa própria sociedade, o nosso comportamento quotidiano e o modo individualista como actuamos face aquilo que nos rodeia.

Um dos aspectos mais curiosos deste volume é a mística religiosa ligada aos personagens. O leitor já tinha compreendido que Amy era uma espécie de profeta que quase podia ser equiparada a um Jesus Cristo que veio à terra única e exclusivamente para salvar a humanidade. Agora vemos uma Amy ainda mais visionária e que cresce, ganha novos contornos (literalmente e em muitos sentidos...). Contudo as ligações à Biblia e à religião católica não se esgotam nesta personagem. O prólogo possui um tom marcadamente biblico-religioso e há até uma ordem de freiras na cidade que tomam conta dos orfãos e seguem os preceitos da pobreza e do amor ao próximo. Por sua vez o Zero e os Doze podem ser vistos como a antítese, não só de Amy, mas também de Cristo e dos apóstolos. Na sua essência funcionam como um anti-cristo e os seus doze discípulos havendo até lugar a um Judas na figura de Carter - aquele que trai os demais indo claramente contra aquilo que é a vontade dos mesmos. A ressurreição, a vida depois da morte e a existência de uma alma que perdura estão também presentes não apenas no modo como as almas dos Doze estão ligadas umas às outras, ou na maneira como as almas dos virais se unem à do seu "senhor" mas, sobretudo, na presença de Wolgast e no final que este e a sua "família" alcançam.
O autor desmonta e recria um sem número de preceitos, conceitos, mitos e crenças ligados, sobretudo, à fé católica construindo um mundo que é uma espécie de réplica não tão distorcida daquele em que vivemos. No final do livro é através de toda esta mística que o leitor pode tentar adivinhar aquilo que poderemos, ou não, ler num volume próximo.

Resumindo (e esperando não ter feito uma grande confusão; esperando ter conseguido ser o mais clara possível sem revelar demais), recheada de personagens fortes e muito humanas, com uma boa dose de acção e muito mistério é uma sequela magnifica onde as peças se encaixam e nada é deixado ao acaso. Esta está a revelar-se, sem sombra de dúvidas, a melhor trilogia distópica de sempre.
Recomendadíssimo.
9/10

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Top Ten Books I Would Love To See As A Movie/TV Show

O tema desta semana é Top Ten Books I Would Love To See As A Movie/TV Show (set in a perfect world...in which movies don't butcher the books we love.)  portanto, livros que gostariamos de ver bem adaptados ao cinema ou TV. E quando dizemos bem, queremos dizer num ambiente e de uma maneira que não "assassine" completamente a narrativa e aquilo que lemos e imaginámos ao ler. Não é tarefe fácil. Ainda assim, as adaptações cinematográficas têm vindo a melhorar cada vez mais e a defraudar cada vez menos. 
Este Top Ten não é muito difícil. Na verdade, penso que não me  engano se disser que todos nós gostávamos de ver os nossos livros preferidos bem adaptados ao ecrã. Por outro lado, há sempre um ou outro livro que lemos e que nos faz automaticamente pensar "Isto dava um grande filme...". Tendo em conta estes dois factores, deixo a minha lista (que só por acaso deve ser imensamente parecida com esta).




















E vocês, iam ao cinema ver a história de que livro?

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Kushiel's Scion

Título: Kushiel's Scion
Série/Saga: Imriel's Trilogy (Imriel's Trilogy, #1)
Autor: Jacqueline Carey
ISBN: 9780446610025
Nº de páginas: 944

AVISO: Tanto a sinopse como a minha opinião contém alguns spoilers relativos à saga Kushiel's Legacy publicada  em Portugal pela SdE.



Imriel de la Courcel's blood parents are history's most reviled traitors, but his adoptive parents, the Comtesse Phèdre and the warrior-priest Joscelin, are Terre d'Ange's greatest champions.

Stolen, tortured, and enslaved as a young boy, Imriel is now a Prince of the Blood, third in line for the throne in a land that revels in art, beauty, and desire. It is a court steeped in deeply laid conspiracies ... and there are many who would see the young prince dead. Some despise him out of hatred for his birth mother Melisande, who nearly destroyed the realm in her quest for power. Others because they fear he has inherited his mother's irresistible allure - and her dangerous gifts. And as he comes of age, plagued by dark yearnings, Imriel shares their fears.
At the royal court, where gossip is the chosen poison and assailants wield slander instead of swords, the young prince fights character assassins while struggling with his own innermost conflicts. But when Imriel departs to study at the famed University of Tiberium, the perils he faces turn infinitely more deadly. Searching for wisdom, he finds instead a web of manipulation, where innocent words hide sinister meanings, and your lover of last night may become your hired killer before dawn. Now a simple act of friendship will leave Imriel trapped in a besieged city where the infamous Melisande is worshiped as a goddess; where a dead man leads an army; and where the prince must face his greatest test: to find his true self.


Quando terminei a leitura da série Kushiel's Legacy fiquei  por um lado muito curiosa com esta nova série, por outro lado com um valente "amargo de boca" por saber que, pelo menos tão cedo, não vai ser publicada em português. Posto isto, deixei-me de coisas e decidi arriscar ler no original. Como devem lembrar-se, sou um bocadinho alérgica ao inglês, além disso a linguagem da autora é muito cuidada e eu estava um bocado receosa de não conseguir lê-la no original. Enganei-me. Comecei devagarinho mas quando dei por mim já tinha lido cerca de 50 páginas e estava a perceber tudo!!

A narrativa tem início cerca de 2/ 3 anos depois dos acontecimentos narrados no último volume da trilogia anterior e aqui temos como narrador Imriel  nó Montreve de La Courcel, filho biológico da malograda vilã Melisande Shahrizai, adoptado por Phédre e Joscelin depois do resgate levado a cabo pelos últimos. A vida é calma e sem grandes problemas nos domínios da Comtesse mas, à semelhança do que já tinha acontecido antes, a chegada de correio vai deitar por terra a paz alcançada. Melisande, que tinha até então cumprido todas as suas promessas e se tinha mantido no Templo de Asherat do Mar em La Serenissíma, acaba de desaparecer sem deixar rasto. Imriel, que nunca lidou bem com a herança de traição deixada pela mãe, deixa-se abalar pelos acontecimentos e o seu tumulto interior agrava-se (isto de praticamente ter "TRAIDOR" escrito na testa não deve ser nada simples).

Na verdade, grande parte deste livro é marcado pela luta interior do jovem. Por um lado quer ser o filho extremoso e amoroso de Phèdre, quer achar-se merecedor do amor e das oportunidades que lhe foram dados tanto pela anguisette como por Joscelin. Por outro lado, Imriel é um Shahrizai, um herdeiro de Kushiel e, como tal, extremamente susceptível às suas dádivas, desejos e a todo o negro legado que marca a família. Aprender a lidar com os seus desejos mais negros, com o facto de viver sob o mesmo tecto que "a eleita de Kushiel" e com tudo o que isso acarreta, descobrir quem é e onde pertence é a grande viagem a que assistimos neste volume. É uma viagem interior em que o personagem cresce e ganha maturidade. Neste ponto penso que o livro é muito semelhante ao primeiro da trilogia anterior em que assistimos ao crescimento e desenvolvimento de Phèdre ao mesmo tempo que vamos sendo apresentados a um enorme leque de personagens secundários e mergulhamos na complexa trama traçada por Carey.

Quando atinge a maioridade, assolado pelas suas mais recentes experiências e acossado por uma enorme vontade de fugir de Terre d'Ange e de si mesmo, o jovem acaba por partir para Tiberium (Roma) afim de estudar numa das melhores universidades do mundo e tentar encontrar o seu lugar no mesmo. Mas aqui, numa terra estranha, longe daquilo que lhe é mais familiar o perigo também espreita e Imriel vai ter que descobrir em si coragem para enfrentar o mundo que o rodeia e, sobretudo, a si mesmo e aquilo que é.

Como já devem ter reparado, é em Tiberium que as coisas começam definitivamente a acontecer. Até aqui a narrativa é algo lenta e , apesar de estar marcada pelas intrigas da corte e pelos medos e experiências de Imriel, torna-se um pouco aborrecida. Na realidade, é apenas nas últimas 150 páginas que o ritmo se torna aquele a que Carey já nos vinha habituando. Ainda assim, quero crer que este facto se deve a uma escolha propositada da autora em servir-se deste como volume introdutório. Uma longa introdução, é verdade, mas uma que nos deixa completamente dentro do contexto e na qual reencontramos personagens que adorámos e nos são apresentados novos e carismáticos intervenientes. E apesar de a intensidade da narrativa só se verificar já numa recta final o leitor fica satisfeito com o que lê e com uma imensa vontade de continuar, de saber mais e poder descobrir o que vem depois porque, além do destino de Imriel, há imensas sombras sobre os destinos de imensos personagens secundários que, de tão bem construídos, nos arrebataram e conquistaram irremediavelmente. É este um dos poderes de Jacqueline Carey, levar o leitor a preocupar-se com todo e cada um dos seu personagens como se na realidade existissem de facto.

Resumindo, mais fraco que os volumes anteriores - algo que se deve, sem dúvida, à natureza do narrador e a facto de se tratar de um volume com um carácter mais introdutório - mas com um world building e uma construção de personagens magnifica. Pelo final deixado em aberto, deixa imensa curiosidade quanto ao próximo volume (ainda bem que já tenho para poder ler em breve!!) e promete um intensificar do ritmo e da intriga a par de algumas viagens e contactos com outras culturas que se podem revelar bem interessantes.

7,5/10