sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Torre e a Morte

Título: A Torre e a Morte
Autor: Michael Innes
Colecção: 9 mm
Edição: Jornal O Público

"Quando o Lord de Erchany, Ranald Guthrie, cai das muralhas do seu castelo, numa noite de tempestade em pleno Inverno, o lendário e perspicaz detective John Appleby é chamado para investigar o caso. Ao longo do livro, são apresentadas várias hipóteses que tentam explicar este estranho "acidente", mas só uma é a verdadeira... A Torre e a Morte (1938) é um dos melhores policiais do escocês Michael Innes (1906-1994), pseudónimo de John Innes Stewart, que não resiste a confundir os factos com elementos fantásticos e surreais."

Autor de vários policiais Michael Innes publicou este título em 1938. Por cá, foi editado na colecção Xis e, mais tarde, pela Livros do Brasil na colecção vampiro. Em boa hora o Público decidiu incluir este título na 9mm, é um verdadeiro clássico dos policiais.

Quem prefere os policiais modernos, mais realistas e com maiores referências às tecnologias, pode ter certas reticências quando confrontado com as insólitas circunstâncias que rodeiam uma estranha morte na Escócia profunda do virar do século e às alusões ao sobrenatural. Contudo, em minha opinião, a mestria de Innes na criação de ambientes e personagens, aliada à enorme qualidade narrativa e à capacidade revelada para trocar as voltas ao leitor com as situações mais inesperadas, depressa farão o mais relutante ultrapassar as suas dúvidas, deixando-o rendido à escrita deste autor.

A narrativa gira em torno de uma torre e de uma morte (uau...!! a minha astúcia... :) ) mas além disso pouco mais sabemos. Ter-se-á Ranald Guthrie suicidado? Terá sido acidente? Homicídio?  O final e engenhoso e inusitado, como tudo neste livro mas o modo como o leitor o atinge é, por si só, peculiar. A narrativa desenvolve-se em cinco fases, cada uma delas domínio de um personagem que nos vai dando a conhecer aquilo que sabe sobre a morte do falido castelão escocês.
A primeira parte é narrada por Ewan Bell, o sapateiro de Kingkeig (aldeia remota perdida nos confins da Escócia) que, e aqui entra o insólito e o irónico, cita os clássicos latinos e é um dos homens mais influentes e letrados dos arredores. É pela sua voz que ficamos a saber que no castelo vivem, além de Ranald Guthrie, a sobrinha deste (um parentesco que suscita diversas dúvidas e muitos mexericos); Tannas, um jovem doente mental que acabamos por não perceber muito bem como ali foi parar; o sinistro mordomo Hardcastle e a mulher deste. Ewan dá-nos também a conhecer os factos e acontecimentos que antecedem a morte de Guthrie e deixa-nos a par de todos os boatos e mexericos da aldeia (sempre referindo que o são).

Numa segunda fase, o narrador é Noel Gilby, um jovem dandy que, após um acidente de automóvel numa noite de neve, se vê obrigado a pedir asilo no decrépito castelo. Com ele chega Sybil Guthrie, parente distante do falecido. Gilby escreve uma carta-diário dos acontecimentos que têm lugar no castelo, incluindo a morte de Randal, com o intuito de se justificar à sua noiva. Com a sua narração o mistério começa a adensar e o leitor sem saber o que há-de pensar de tão estranhas ocorrências.

O terceiro interveniente é Aljo Weddeburn, advogado/ solicitador, chamado por Noel Gilby que ao analisar os factos é o primeiro a tentar lançar alguma luz (com lógica) sobre os mesmos. Ainda assim, as suas teorias têm que esperar pela intervenção e acção do inspector Appleby - o nosso quarto narrador- que virá investigar convenientemente o caso.

O último interveniente... vou deixar que o descubram os curiosos que decidirem ler este livro. Além de ser um enorme spoiller  mencioná-lo, iria estragar toda a surpresa do final. Apenas posso dizer que é alguém que nos conta um pouco do passado da família Guthrie, em particular sobre Ranald e os seus irmãos.

Os suspeitos são muitos - todos os habitantes do castelo e outros dois personagens - e aquilo que parecem ser as mais ocas trivialidades dadas a conhecer por mero acaso acaba, muitas vezes, por se revelar um pormenor importante e decisivo para o desfecho da estória. É um livro para ler com calma e saborear.

Recomendadíssimo.

Sem comentários: